Crônica do Dia de Cão de uma Mulher.

Nesse dia, acordei atrasada para o trabalho. Dirigi-me ao banheiro e ao me olhar no espelho, percebo que a noite mal dormida não me deixou bolsas, mas sim, mochilas, que nem o meu caríssimo corretivo da Mac seria capaz de apagar, ainda mais agora que ele estava perdido em um banheiro de festa qualquer. Pensei que algumas pontas duplas no cabelo seriam o fim, mas... Que tal 5 mil delas? Subi na balança, que mostrou que tinha engordado 2 kg. Abalada, fui pegar aquele vestidinho floral que disfarça qualquer gordurinha, quando percebi que a diarista o tinha manchado. Corro para o armário e percebo que, dentro de 5 anos de compras, não tenho uma roupa sequer que não me deixe gorda, velha, ou gorda e velha.Depois de tudo isso, fui para a cozinha tomar café-da-manhã, mas descobri que não havia nada que pudesse comer em 30 segundos, que é o tempo que tinha para sair de casa.Lembrei que algumas mulheres pensam que necessitam de carros para facilitar a vida. Outras, como eu, já tinham carro e apenas deveriam lembrar que eles necessitam de gasolina. Tentei jogar charme para o vizinho gato que se mudou há pouco tempo para ver se ele me ofereceria carona, mas descobri que ele é gay, e que estava saindo com o meu outro pretendente.Corri para a parada de ônibus e só lá notei que 80% da população da cidade usa transporte coletivo, no mesmo horário que eu. Depois de entrar desesperada, suada e descabelada na empresa, corri para bater o meu ponto, e percebi que estava numa fria, a se basear pela cara do meu chefe me olhando, plantado ao lado do ponto.Ao me dirigir para a minha sala, notei estranhos risinhos na minha direção. Tentava manter a calma, quando recebi um telefonema, adiantando a reunião para a qual eu ainda não estava pronta. Os diretores ainda resolveram aproveitar a reunião para anunciar a promoção da nova secretária (que está dormindo com o chefe) para o meu cargo, tudo isso no meu horário de almoço.Frustrada, saí em direção ao shopping, achando que umas boas compras me ajudariam a espairecer. Na boca do caixa, fui informada de que havia estourado o limite do meu cartão. Finalmente cheguei em casa, achando que atrás daquela porta estaria o conforto de um lar. É, até estaria, isso se eu pudesse entrar, visto que havia perdido minhas chaves. Imediatamente fui falar com o zelador para lhe pedir a cópia da chave, a qual descobri não existir.Após ter a porta de madeira de lei arrombada, entrei em casa e me joguei na cama achando que nada mais poderia piorar aquele dia de cão. Nesse exato momento, enquanto olhava para o relógio que marcava 23h58min, e pensava em como teria sido bom caso tivesse lembrado do aniversário da minha mãe e ido à sua festa; menstruei.

(Texto por: Gabih Dias. Colaboradores: Cláudia Motta).